quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Magia x Bruxaria = Mago x Bruxa

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A cultura medieval, muito antes do Renascimento, se enche de literatura latina. Os poetas latinos são inclusive auctoritates, ou seja, é difícil recusar o que eles apresentam como fatos seguros e verdadeiros. Santo Agostinho será obrigado a construir uma completa - e complexa - teoria teológica e demonológica para demonstrar que os prodígios mágicos são somente enganos demoníacos. Frente aos prodígios e rituais dos magos, entretanto, o papel da incantatrix ou "bruxa" torna-se ao mesmo tempo mais simples mas também mais obscuro, mais mau.
O magus conhece as leis ocultas do universo, lê o caminho das estrelas, sabe quais são as relações entre os planetas, as pedras preciosas e a alma humana: é um sábio. A incantatrix não sabe ou não tem o cuidado de conhecer as coisas que emprega para atuar, e atuar de maneira má. A incantatrix é maléfica, porque faz o mal (feiticeira de "fazer" ?). Ela atua, sobretudo, em três direções:

- A metamorfose. A incantatrix pode transformar-se em animal (freqüentemente uma ave de rapina noturna, como um morcego ou uma coruja) e nessa forma perturbar sobretudo as crianças, sugando-lhes o sangue até a morte. Na origem, esta crença era estruturada ao contrário: havia gênios maus que à noite tomavam forma de pássaros sugadores de sangue e de dia a de velhas mulheres. A incantatrix pode também transformar os outros em animais.

- A incantatrix atua como xamã: viaja ao país dos mortos, fala com eles e graças a eles prediz o futuro.

- A incantatrix também faz, com seu carmen, seu cantus, rituais e ervas que ela conhece, maleficia que dão ou tiram amor, que matam as crianças no próprio seio materno, que podem chegar até à morte.
Em resumo, essas são as características das incantatrix, que a antigüidade e a Idade Média nunca esqueceram, mas que ao longo de muitos séculos ficaram no fundo das crenças comuns.
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Por
Franco Cardini
Instituto de História
Universidade de Florença - Itália

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